Cardiologista orienta sobre cuidados necessários para evitar doenças cardiovasculares, além da influência das mudanças climáticas como fator de risco
CARATINGA- De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), as Doenças Cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte no mundo. Especialistas são unânimes em dizer que boa parte das ocorrências poderiam ser evitadas com medidas simples de hábitos saudáveis.
Cardiologista destaca hábitos saudáveis para evitar doenças cardiovasculares
Para tratar deste assunto, o DIÁRIO traz entrevista com o cardiologista e ecocardiografista Marcos Vinícius Domingos. Ele cita as principais doenças relacionadas ao coração, além da influência das mudanças climáticas como fator de risco.
Quais devem ser os cuidados no dia a dia para manter o coração funcionando bem?
Nos últimos anos vem se constatando um aumento na incidência de doenças cardiovasculares, principalmente em função dos hábitos da vida moderna. Reduza o estresse, evite ficar o tempo inteiro “conectado”. Alimente corretamente e abuse de frutas, verduras e legumes. Faça das suas refeições bons momentos, em boas companhias e com tranquilidade. O sedentarismo é um estilo de vida considerado um grande fator de risco para as doenças do coração, abandone-o, inclua na sua rotina atividade física e exercício físico. Seu corpo e sua mente sentirão os benefícios! Tenha empatia com seu próximo! Reflita sobre como você encara os fatos cotidianos e os sentimentos no decorrer da vida, ou seja, você já parou para pensar na espiritualidade como forma de se prevenir as doenças do coração? Pois o tema é cada vez mais frequente nos congressos atuais de cardiologia. Vale lembrar, também, que é essencial realizar um check-up anual para evitar doenças do coração.
Se tratando de diagnóstico, quais principais protocolos utilizados para se avaliar as condições em que se encontra o coração de uma pessoa?
Como todo pilar da medicina tudo deve começar com uma boa história clínica e bom exame físico e se necessário complementar com exames, dos quais existem vários… qual exame complementar deve ser solicitado vai depender da hipótese diagnóstica do médico no momento da consulta.
Quais as doenças relacionadas ao coração são mais comuns?
Hoje as principais doenças relacionadas ao coração seriam a hipertensão, as doenças isquêmicas (infarto e angina), arritmias cardíacas, o prolapso valvar mitral, a insuficiência cardíaca, as valvopatias reumáticas, e outras que teriam participação importante na morbimortalidade das doenças cardíacas como o diabetes, a aterosclerose, os acidentes vasculares cerebrais.
Doenças cardíacas são genéticas?
Uma grande parte sim… Se um dos pais é hipertenso, a probabilidade do filho desenvolver a doença é de 25%. Quando o pai e mãe são hipertensos, a possibilidade aumenta para 60%, porém a manifestação dessas doenças vai depender de fatores externos, principalmente os fatores de risco modificáveis (sedentarismo, tabagismo, estresse, obesidade, excesso de sal e frituras na dieta), ou seja, quanto mais fator de risco existir maior será a chance dessa doença cardíaca se manifestar mais precocemente. Se você tem histórico de doença cardiovascular na família, principalmente parentes de 1º grau, procure se cuidar, porque você pode estar mais propenso a ter alguma destas doenças mais cedo que o normal. Mas existem maneiras de diminuir esse risco, fazendo atividade física regular e dieta rica em vegetais e pouca gordura e pouco sal.
Qual a relação da sazonalidade climática com as doenças do coração?
A chegada do outono no dia 20 de março, traz também, o ar seco e o frio, típicos desta época. O frio causa o aumento da pressão arterial e da tendência à coagulação do sangue, e o coração fica sobrecarregado, aumentando o risco de doenças cardiovasculares. A exposição à poluição, típica de um dia mais seco, também pode levar ao aumento da coagulação do sangue e inflamação sistêmica, que estão associados aos eventos trombóticos que ocorrem no infarto e acidente vascular cerebral. Além disso, comum durante o outono e o inverno, a gripe também pode prejudicar o funcionamento do coração, pois faz com que ele tenha que trabalhar muito mais. Outras doenças respiratórias que podem ter efeitos cardíacos são as doenças pulmonares obstrutivas crônicas, elas diminuem a oxigenação do sangue e podem ser um fator de risco para o infarto, ainda mais em situações estressantes que reduzam a capacidade pulmonar.
Diabetes, cigarro, colesterol elevado e vida sedentária são considerados fatores de risco dos ataques cardíacos. Mas, as emoções também podem influenciar nesta patologia?
Com certeza exerce grande influência! É como se todos os nossos sentimentos assem pelo coração e nele deixassem suas marcas, as boas e as ruins. Amor, raiva, alegria, irritação, tristeza e toda a vasta gama de sentimentos experimentada pelo ser humano promovem modificações orgânicas de tal dimensão que podem contribuir de maneira decisiva para o vigor ou a falência do coração.
Então, aquela típica frase de que sorrir faz bem ao coração é verdade?
Muito verdadeira. Quando rimos, o corpo diminui a pressão sanguínea e aumenta a produção de endorfina, hormônio ligado ao relaxamento também diminui a produção dos hormônios que causam estresse, ajudando a prevenir infartos e derrames cerebrais.
Um estudo de pesquisadores de diversos países chegou à conclusão que a infância saudável é chave para coração forte no futuro. Nesse aspecto, se tratando de crianças, a alimentação é o principal desafio?
Os cuidados com a saúde do coração começam na infância. Em tempos de fast food e sedentarismo é preciso incentivar a prática por hábitos saudáveis para que se possa garantir um futuro com mais saúde. Fique de olho na alimentação saudável dos seus filhos. Lembre-se, somos espelhos para os pequenos, então se exercite, abandone maus hábitos, tenha uma alimentação equilibrada. O ideal é apostar em uma dieta rica em frutas, verduras, carnes magras e carboidratos de qualidade.
O Brasil tem dados estatísticos consideráveis em relação ao sobrepeso. Esse fator preocupa os cardiologistas?
O sobrepeso e principalmente a obesidade, é uma doença que abre portas para outras muito mais sérias, que podem levar à morte. O obeso tem mais propensão a desenvolver problemas como: hipertensão, diabetes tipo 2, artrose nas articulações, entre outras. Se a pessoa não se cuidar pode ter problemas também com diminuição da autoestima e depressão.
O que pode se esperar da saúde cardíaca do brasileiro no futuro?
O Ministério da Saúde estima que mais de 30% das mortes no Brasil são causadas por doenças cardiovasculares e, por isso, são consideradas as principais causas de mortalidade da população brasileira. Apesar dos problemas serem mais comuns a partir dos 50 anos, engana-se quem pensa que os jovens não devem se preocupar com a saúde do coração. A atenção deve ser redobrada para quem tem histórico familiar de problemas cardiovasculares, pois o componente genético é de grande relevância. Diante deste panorama, é essencial começar a prevenir as causas e manter os cuidados com a saúde em dia. Algumas medidas podem ser tomadas diariamente, sem muito esforço, para que a longo prazo o coração responda de forma saudável. Não se esqueça – o seu coração pode te cobrar pelo estilo de vida que você leva. Cuide do seu coração, é ele que te mantem vivo.
