- Eugênio Maria Gomes
“Batidas na porta da frente… É o Tempo”.
O Tempo. Essa poderosa grandeza física, que reduzido a um conceito mais familiar à percepção humana comum, nos permite dividir nossa existência em três dimensões lineares: o ado, o presente e o futuro.
Hoje, o Tempo veio me lembrar que, há cerca de onze anos, eu escrevia meu primeiro artigo. Hoje, também, o Tempo veio me lembrar que completo quinhentos artigos publicados. Quinhentas mensagens transmitidas. Em cada uma delas, espelhei um pouco de mim. Um pouco do que penso, um pouco do que desejo. Um pouco do que vejo, do que sinto. Um pouco do que me atemoriza, do que me alegra, do que me entristece…
Em cada artigo que escrevi, abordei os mais diversos e variados assuntos. Sempre buscando contribuir, ainda que de forma tímida e subliminar, para a evolução moral, política e espiritual dos meus leitores. Às vezes, devo ter sido ácido. Outras vezes, fui suave, romântico, sereno. Poucas vezes fui raivoso, demasiado crítico ou excessivamente áspero. Mas sempre, invariavelmente sempre, reservei um parágrafo para fazer uma profissão de fé na possibilidade de construirmos, juntos, um futuro melhor, uma sociedade mais justa, um país mais digno e um mundo mais harmonioso.
“…Num dia azul de verão, sinto o vento. Há folhas no meu coração… É o Tempo”.
O Tempo. Ele veio me lembrar do “Zé Simples” e da importância de valorizarmos as “Pequenas Coisas da Vida”, aquelas que realmente importam e que nos fazem verdadeiramente felizes. Para isso, precisamos tomar consciência de que “Menos é Mais”, que não devemos “Atirar a Primeira Pedra” e que a solução das nossas diferenças pode ser encontrada com “Vinho, Educação e uma Boa Conversa”.
O Tempo. Ele veio me lembrar que não podemos nos transformar em “Prisioneiros de um Mundo Irreal”, que não se pode ter “Vergonha de Ser Honesto”, que as “Noites Traiçoeiras” arão, e que a Verdade, sempre sairá do Poço.
“… O Tempo zomba de mim… Do quanto eu chorei…Ele sabe ar, eu não sei…”.
Entristeci-me com a “Política”. Chorei com “A Noite de São Bartolomeu”, tremi com o “Pesadelo”. Em cada um desses artigos, expressei meu profundo descontentamento com a maneira que nossos líderes conduziram e conduzem nosso País. Utilizando-se dos seus cargos para proveito próprio, apartando-se da “Ética e da Moral”, buscando o Poder como um valor em si mesmo, sendo lenientes com a corrupção e esquecendo as mais elementares necessidades do nosso Povo, esquecendo “Onde Dormem as Pessoas Marrons”.
Constatei, com profundo pesar na alma, que muito da mensagem do Cristo foi desvirtuada, que a palavra sagrada, retirada de seu contexto, ou a servir de fundamento para a substituição do Perdão pela Vingança, da União pelo Sectarismo, do Amor incondicional pela Cólera dos discursos de Ódio daqueles que esqueceram que “Com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós”.
Muitas vezes, com lágrimas nos olhos, lembrei da necessidade de preservarmos o meio ambiente. Das queimadas na Amazônia ao lamaçal da Baía de Guanabara, de Brumadinho ao Rio Caratinga, tentei mostrar a todos que “Uma hora a Conta Chega”, e que é preciso “Saber Viver” sob pena de “Não haver Amanhã”.
“…Recordo um Amor que perdi. O Tempo ri…Diz que somos iguais. Se eu notei. Pois não sabe ficar … E Eu também não sei…”.
Falei de Amores. Do mais nobre dos sentimentos. Da conquista, da perda, da reconquista. Do prazer de “apaixonar-se novamente pela mesma pessoa”, e que sempre e sempre “O Amor Vale a Pena” e que mesmo se um dia o Tempo, esse temível predador de sentimentos, apagar o Amor, “eu vou ficar guardado no seu coração, e nas noites frias, na solidão, a saudade vai chamar meu nome. Eu estarei guardado no seu coração, num verso triste de paixão, no toque de seu telefone”.
Falei de filhos, para quem deixarei uma herança de esperança, integridade, alegria e profundo Amor. Falei de netos, meu verdadeiro tesouro, e a certeza de que uma parte de mim continuará a existir nesse plano físico.
Falei de Família, da necessidade de conciliarmos nossos afazeres, nossos compromissos, com a indispensável convivência familiar, com o cuidado e o carinho para com os pais, filhos, netos, irmãos, sobrinhos. A Família, esse porto seguro, que uma vez cultivada, nos permitirá “Envelhecer com Alegria”.
“…O tempo se rói com inveja de mim… Me vigia querendo aprender, como eu morro de Amor, e assim, reviver…”
Por tudo que escrevi, sobre tudo que falei, conquistei muitos amigos. Toquei-lhes, ora o coração, ora a consciência. Algumas vezes, consegui expressar em palavras escritas, o que muitos gostariam de dizer. Fiz das deles, as minhas palavras, e eles, fizeram das minhas, as suas mensagens. Dei-lhes vez e dei-lhes voz, através do que Eu escrevia, e embora no anonimato, muitos deles se sentiram ouvidos, muitos entenderam que “A Selva de Pedras também tem serpentes” …
Inimigos? Talvez alguns. Às vezes, dizemos aquilo que não se deseja ouvir. Às vezes, mostramos aquilo que não se quer ver, inclusive que “Beijamos o beijo de Judas, todos os dias”. O Tempo me lembra que cada um tem seu momento, que muitos ainda se encontram perdidos entre um ado infeliz e um presente medíocre, e que se não perceberem que precisam exorcizar seus pecados, corrigir seus desvios de caráter e conter sua “Inveja” estarão condenados a um triste Futuro, pois somos o “Resultado de nossas Escolhas”. Não lhes desejo o “Inferno de Dante”, descrito na “Divina Comédia”. Desejo-lhes que encontrem “Paz de Espírito”.
O Tempo. O Tempo me lembra que “Sou um Escritor em Construção”. Não sou um escritor estático. Assim como a vida, Eu vivo em “constante mutação”. Minhas opiniões podem mudar, meu modo de ver o mundo pode mudar. Essa “Metamorfose” é própria do ser humano e demonstra, tão somente, que trilhamos nossa jornada, que moldamos nosso futuro a cada o dado, e que a todo o momento, deixamos de ser a mesma pessoa, e que invariavelmente, “O Novo Sempre Vem”.
O que permaneceu constante, porém, e que permanecerá assim, para sempre, é meu profundo compromisso com o Bem, o Bom, o Certo e o Justo. Que nunca me deixei seduzir pelo “canto de sereia” dos “falsos profetas” e que permaneço íntegro em minha Fé no Deus do Amor e do Perdão. Na crença incondicional de que todos nós somos iguais. De que a Democracia e os valores da Liberdade, da Pluralidade e do respeito recíproco são os únicos compromissos capazes de resolver, sem violência, os imensos desafios que nos esperam. Que o “Ser” é infinitamente mais importante que o “Ter”. Que o Criador tem muitas faces e que seu lar tem muitas moradas. Que é possível construirmos um mundo melhor para os que virão e que a glória da criação reside na diversidade de suas formas, e na maneira como as nossas diferenças se combinam, formando esse maravilhoso mosaico de cores, de tons, de sons, de opiniões, de mistério e de beleza. “Mosaico de Vidas!”.
“… Respondo que ele aprisiona, Eu liberto. Que ele adormece as paixões, Eu desperto”.
E assim lá vou Eu. Sempre em frente. Errando, acertando. Caindo, levantando. Caminhando, cantando. Trilhando meu caminho. Minha paixão pela vida, expressa em minha paixão pela Literatura, me impulsiona a cada manhã. Não cedo às amarras do Tempo, tripudio com ele. Escapo de suas garras a cada obra que termino, a cada frase que escrevo. Assim como Cora Coralina, “Não sei… se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas”.
“… O Tempo é uma eterna criança, que não soube amadurecer. Eu posso, mas ele não vai poder me esquecer…”
O Tempo insiste em lembrar, todas as vezes que chorei. Por não ter sido compreendido, por ter falhado em minhas mensagens, por ter magoado alguém querido. Respondo-lhe que também sorri muitas vezes. Porque disse o que queria dizer, porque mesmo sem saber, ajudei alguém a superar uma dor, porque chamei a atenção de todos para um assunto importante. Lembro ao Tempo que chorar e sorrir fazem parte da vida. E que o importante é “que emoções eu vivi”!
Esta, então, é a minha resposta ao Tempo.
Ele a, e ará para sempre.
Assim como “Todos esses que aí estão. Atravancando meu caminho. Eles arão… Eu arinho!”.
- Eugênio Maria Gomes é Escritor e funcionário da Funec.
* Inspirado na música “Resposta ao Tempo” de Aldir Blanc e Cristóvão Bastos, brilhantemente interpretada por Nana Caymmi.